DOC 85/2006-CNBB
III LINHAS
DE AÇÃO
Do encontro
pessoal com Jesus Cristo, nasce o discípulo, e do discipulado nasce o
missionário. O encontro pessoal é a primeira etapa. Em seguida, nasce um
itinerário, em cujas etapas vai amadurecendo pouco a pouco o compromisso com a
pessoa e o projeto de Jesus Cristo, à luz do mistério pascal. Cada etapa abre
horizontes ao jovem para definir seu projeto de vida. O jovem aprende a escutar
o chamado de Cristo; a buscar uma vida interior de valores evangélicos; a sair
do individualismo para pensar e trabalhar com os outros; a participar de uma
comunidade eclesial concreta; a se sensibilizar como o bom samaritano com o
sofrimento alheio; a participar de uma pastoral orgânica com os outros; a
entender que a luta pela justiça é um elemento constitutivo da evangelização; e
a se comprometer de maneira decisiva com a missão. Estas etapas devem levar a
uma opção vocacional, entendida como vocação de leigo ou vocação de especial
consagração, como presbítero ou religioso (a). O que sustenta a caminhada é a
graça de Deus. Acreditamos que para responder de maneira qualificada aos
anseios da juventude, às necessidades da Igreja e aos sinais dos tempos,
necessitamos das seguintes linhas de ação:
1.       FORMAÇÃO
INTEGRAL DO DISCÍPULO
O conceito
de formação integral é importante para considerar o jovem como um todo,
evitando assim reducionismos que distorcem a proposta de educação na fé,
reduzindo a fé a uma proposta psicologizante, espiritualista ou politizante. 
Apontamos
cinco dimensões que necessitam da atenção de quem trabalha na formação dos
jovens: dimensão da personalização, da integração, dimensão
teológico-espiritual, social-política e dimensão da capacitação técnica. 
a.       Dimensão
psico-afetiva – Processo da personalização. As
perguntas de fundo: Qual é a relação comigo mesmo? Quem sou eu? São perguntas
de fundo importantes para o autoconhecimento e para a construção da
personalidade do jovem. Sem a capacidade de autoconhecimento e autocrítica, o
jovem é incapaz de analisar as situações com objetividade, de administrar os
conflitos, e de se relacionar com outros de uma maneira equilibrada. Sem esta
dimensão torna-se difícil a interiorização, o silêncio interior e o encontro
com Deus na oração e a verdadeira conversão.
b.      Dimensão
psicossocial – Processo de integração. As
perguntas de fundo são: Quem é o outro? Como relacionar-se com ele? Essa
dimensão acentua a importância das relações entre as pessoas que acontecem, por
exemplo, nas amizades, nos grupos, na vida em comunidade, na família. A
felicidade do jovem depende da sua capacidade de comunicar-se com os outros. A
amizade é algo natural e importante na vida do jovem. Frente a uma cultura
contemporânea que incita à concorrência, o Evangelho propõe um relacionamento
baseado no amor e no serviço. Essa dimensão, então, busca motivar o jovem para
o envolvimento na comunidade eclesial. Na medida em que ele se sente valorizado
em suas capacidades, consegue perceber o valor de se caminhar com aqueles que
partilham da mesma fé em Jesus Cristo.
c.       Dimensão
Mística – Processo teológico-espiritual. As
perguntas de fundo que o jovem se faz são: Qual é a minha relação com Deus? De
onde vim? Para onde vou? Qual o sentido da minha vida? Qual o sentido da morte?
Qual o sentido do sofrimento?  O ser
humano foi feito para um horizonte mais amplo do que o bem-estar material. O
teológico e o espiritual não só caminham juntos, mas se complementam. A
dimensão teológica é cultivada no estudo, na catequese e no aprofundamento dos
dados básicos da fé. Desse aprofundamento fazem parte a iniciação à leitura da
Palavra de Deus, do conhecimento de Jesus Cristo e da Igreja. A dimensão
espiritual corresponde à experiência de Deus. Isso pode ser feito através de
retiros, da vivência sacramental e da oração. Não basta estudar Deus; é
necessário também ter uma experiência de Deus. A relação com Deus está também
presente nas outras dimensões e as ilumina.
d.      Dimensão
Política – Processo de participação-conscientização.
As perguntas de fundo do jovem são: Qual a minha relação com a sociedade ao meu
redor? Como organizar a convivência social? Podemos mudar a sociedade? A
consciência da cidadania faz ver que todo poder emana do povo e em seu lugar é
exercido. Essa dimensão abre o jovem para os problemas sociais em nível
nacional e internacional: problemas de moradia, saúde, alimentação, a má
qualidade da educação, direitos humanos desrespeitados, discriminação contra a
mulher, violência, guerra, ecologia. Não se pode pregar um amor abstrato que
encobre os mecanismos econômicos, sociais e políticos geradores da
marginalização de grandes setores de nossa população. Aqui há necessidade de
formar o jovem para o exercício da cidadania. Há necessidade de conectar a fé
com a vida, a fé com a política.
e.       Dimensão
Técnica – Processo de capacitação-metodologia. As
perguntas de fundo do jovem: Qual é a minha relação com a ação? “A fé sem
ação,” diz São Tiago, “está morta”. Como trabalhar? Como me organizar através
de um consistente projeto pessoal de vida? Como administrar meu tempo? Como
organizar as estruturas de coordenação que facilitam o acompanhamento
sistemático, a comunicação, o aprofundamento e a continuidade? Como coordenar
uma reunião de grupo e assegurar conclusões concretas? Como montar um curso?
Como avaliar e acompanhar sistematicamente, no dia-a-dia, os processos grupais
de educação na fé? Como planejar e avaliar a ação evangelizadora? As
habilidades são necessárias para acompanhar as estruturas de apoio para o
processo de evangelização dos jovens. Sem
estas habilidades, os projetos pastorais não caminham.
2.       ESPIRITUALIDADE
vocação à
santidade e a certeza de que a juventude é um lugar teológico da comunicação de
Deus, exigem da Igreja uma proposta de espiritualidade como caminho que dê
sentido à vida, em um constante diálogo com o Pai, através de Jesus, no
Espírito Santo. Entendendo a espiritualidade como motivação central e bússola
para orientar a vida, na direção da vontade de Deus, propomos aos jovens uma
espiritualidade: centrada em Jesus Cristo e no seu projeto de vida; acolhedora
do cotidiano como lugar privilegiado de crescimento e santificação; alegre e
cheia de esperança; marcada pela experiência comunitária onde se medita a
Palavra de Deus e se celebra a Eucaristia; apoiada no modelo do ‘sim’ de Maria
e na certeza de sua presença materna e auxiliadora; conduzida pelo compromisso
com o Reino, traduzida no compromisso com a transformação social a partir da
sensibilidade diante do sofrimento do próximo. 
Oração
pessoal: O diálogo pessoal, íntimo, profundo com Jesus Cristo,
no Espírito Santo, nos fortalece na dignidade de filhos diante do Pai. 
Oração
comunitária: É preciso recuperar o domingo como um dia especial de
revigoramento espiritual. 
Participação
na comunidade: A espiritualidade da comunhão fraterna é essencial
na vida cristã e todo jovem é convidado, desde cedo, a fazer esta experiência
fundante da fé através de seu envolvimento nas diversas responsabilidades
assumidas na comunidade. 
Leitura
orante da Sagrada Escritura: Quanto mais mergulhamos nas
Escrituras, mais nos identificamos com este povo e adquirimos entendimento do
que somos, para onde vamos e o que devemos fazer.
A vivência
dos Sacramentos: De maneira toda especial encontramo-nos com Jesus na
celebração dos sacramentos. O jovem, batizado, desejoso de se tornar adulto na
fé, descobre, através da preparação e da celebração do Sacramento da Crisma,
uma ocasião de receber os dons do Espírito Santo e de ser ungido, isto é,
consagrado para a missão.
Devoção a
Nossa Senhora: o reconhecimento da presença materna de Maria se
desenvolve a partir das celebrações litúrgicas e das diversas expressões da
piedade popular.
Os diversos
encontros espirituais: nossa tradição eclesial comprova o valor perene de
momentos especiais para os jovens e com os jovens, cuja finalidade é a formação
e a espiritualidade.
As leituras
e reflexões: são de grande valia as leituras teológicas e
espirituais como instrumento para o fortalecimento e o crescimento da fé. A
leitura da vida dos santos e de seus escritos pode contribuir enormemente para
despertar ou alimentar a vida dos jovens que hoje, mais do que nunca, sentem
necessidade de modelos, líderes, testemunhos.
3.       PEDAGOGIA
DE FORMAÇÃO
Para
evangelizar esta nova geração de jovens que descrevemos anteriormente contamos
com a rica experiência acumulada e sistematizada pela Igreja na América Latina
e no Brasil, e salientamos algumas pistas de ação: 
a.       Prioridade
da experiência sobre a teoria.
b.       Pedagogia
de pequenos grupos e eventos de massa. Os grupos
de jovens são um instrumento pedagógico de educação na fé. 
c.       Níveis
de evolução do processo de acompanhamento dos jovens.
·        
Prestação de serviços: Neste
primeiro nível, o assessor diocesano ou equipe de coordenação organiza serviços
para jovens: palestras, cursos de fim de semana, encontros, eventos massivos,
passeios.
·        
Organização de grupos de jovens: Os
grupos de jovens são um recurso pedagógico na educação na fé e também
representam um passo à frente em termos de continuidade.
·        
Organização dos grupos em uma rede.
As estruturas de coordenação facilitam a organização de uma rede de grupos
através da qual é possível deslanchar processos e não mais atividades isoladas.
·        
Necessidade de um projeto pastoral compartilhado.
Neste nível de evolução há um projeto pastoral compartilhado que determina a
identidade da pastoral ou movimento: modelo de jovem a ser formado, tipo de
espiritualidade, a imagem, de Deus e da Trindade, modelo de Igreja, relação
Igreja-sociedade, relação bíblia-vida, relação fé-vida, fé-política, a maneira
de celebrar.
·        
Crescimento por etapas.
Neste último nível de evolução há uma consciência que todo crescimento humano,
incluindo o crescimento na fé, passa por etapas.
4.       DISCÍPULOS
PARA A MISSÃO 
Na
evangelização da juventude deve-se estar atento ao conjunto da população jovem
e não se restringir apenas àqueles que já são atingidos pela ação pastoral da
Igreja. Freqüentemente os grupos de jovens e suas coordenações se fecham dentro
de um pequeno círculo de amigos e conhecidos. Os jovens organizados na Igreja
são uma pequena parcela da população jovem. É preciso estimular em todos o
espírito missionário para que saiam em missão para levar os outros jovens a um
encontro pessoal com Jesus Cristo e o projeto de vida proposta por ele. Esta é também tarefa de toda a
comunidade eclesial.
A missão
não se reduz apenas a trazer os jovens para as atividades da Igreja, mas também
para que assumam seu papel na sociedade.
Um setor
significativo da juventude sonha com a utopia de um outro mundo possível. Na
maioria das experiências massivas que clamam por mudanças na sociedade e por
uma outra globalização há uma grande presença da juventude.
5.       ESTRUTURAS
DE ACOMPANHAMENTO 
Sem a
organização e a articulação entre si, numa rede de grupos, o assessor se vê
obrigado a acompanhar os jovens individualmente, o que se torna muito difícil.
Sem a organização, os grupos se fecham numa visão limitada e superficial. 
Há um
aumento da motivação por parte dos jovens ao perceberem que fazem parte de um
projeto mais amplo, em que as estruturas participativas promovem o protagonismo
dos jovens, aumentam a motivação e compromisso.
Participando
das estruturas da organização, o jovem desenvolve importantes habilidades de
liderança, capacidade de escutar os outros, de superar a timidez e falar em
público, de organizar e comunicar suas ideias de maneira sistematizada, de
conduzir uma reunião, de analisar criticamente a sociedade ao seu redor, de
motivar e acompanhar processos individuais e grupais, de planejar e avaliar a
ação pastoral.
A
participação nas estruturas de coordenação é uma maneira eficaz de viver a
espiritualidade do Evangelho. Frente ao individualismo da cultura
contemporânea, o jovem aprende a vivenciar o mandamento novo trabalhando em
equipe com os outros. Aprende a humildade e a capacidade de dialogar. No meio
dos conflitos vê-se obrigado a aceitar as críticas, a escutar as opiniões dos
outros, a entender a perspectiva dos outros, ser podado para crescer mais.
Aprende que não pode impor seus conceitos, que é preciso abrir os horizontes
para escutar outros fatos e outras evidências. A participação nas estruturas da
organização é uma maneira para mudar mentalidades e comportamentos. O ambiente
cultural que educa o jovem para o individualismo é combatido na prática
cotidiana dos grupos e equipes de coordenação. As estruturas organizativas
precisam ser avaliadas e atualizadas em vista da missão e do serviço.
A Nova
nomenclatura “Setor Juventude” está sendo usado para significar o segundo
sentido e eliminar a ambigüidade e adequar melhor as estruturas organizativas à
nova realidade.
6.       MINISTÉRIO
DA ASSESSORIA 
Desejamos
identificar e capacitar assessores adultos, pois não há processo de educação na
fé sem acompanhamento, e não há acompanhamento sem acompanhante. Enquanto em
nossas dioceses não houver adultos e jovens-adultos que se responsabilizem
efetivamente por um consistente trabalho juvenil local, os resultados serão
sempre aquém do desejado.
7.       DIÁLOGO
FÉ E RAZÃO 
Os
argumentos intelectuais para serem convincentes devem ser acompanhados pelo
testemunho de uma vida cristã autêntica. A imagem que a Igreja projeta na
sociedade é muito importante para a evangelização de uma juventude cada vez
mais escolarizada: uma igreja comprometida com os setores marginalizados da
sociedade, que evangeliza a partir do testemunho e dinamismo de seus membros,
de maneira especial de jovens que são apóstolos de outros jovens, uma Igreja
alegre e acolhedora que ama e acredita nos jovens.
A importância
da Pastoral universitária 
8.       O
DIREITO À VIDA
Frente à
situação de extrema vulnerabilidade a que está submetida a imensa maioria dos
jovens brasileiros, é necessária uma firme atuação de todos os segmentos da
Igreja no sentido de garantir o direito dos jovens à vida digna e ao pleno
desenvolvimento de suas potencialidades. Isso se desdobra e concretiza no
direito à educação, ao trabalho e à renda, à cultura e ao lazer, à segurança, à
assistência social; à saúde e à participação social. 

 
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