quarta-feira, 29 de outubro de 2025

EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE DESAFIOS E PERSPECTIVAS PASTORAIS- DOC 85/2006-CNBB

 



DOC 85/2006-CNBB


 

III LINHAS DE AÇÃO

Do encontro pessoal com Jesus Cristo, nasce o discípulo, e do discipulado nasce o missionário. O encontro pessoal é a primeira etapa. Em seguida, nasce um itinerário, em cujas etapas vai amadurecendo pouco a pouco o compromisso com a pessoa e o projeto de Jesus Cristo, à luz do mistério pascal. Cada etapa abre horizontes ao jovem para definir seu projeto de vida. O jovem aprende a escutar o chamado de Cristo; a buscar uma vida interior de valores evangélicos; a sair do individualismo para pensar e trabalhar com os outros; a participar de uma comunidade eclesial concreta; a se sensibilizar como o bom samaritano com o sofrimento alheio; a participar de uma pastoral orgânica com os outros; a entender que a luta pela justiça é um elemento constitutivo da evangelização; e a se comprometer de maneira decisiva com a missão. Estas etapas devem levar a uma opção vocacional, entendida como vocação de leigo ou vocação de especial consagração, como presbítero ou religioso (a). O que sustenta a caminhada é a graça de Deus. Acreditamos que para responder de maneira qualificada aos anseios da juventude, às necessidades da Igreja e aos sinais dos tempos, necessitamos das seguintes linhas de ação:

 

1.       FORMAÇÃO INTEGRAL DO DISCÍPULO

O conceito de formação integral é importante para considerar o jovem como um todo, evitando assim reducionismos que distorcem a proposta de educação na fé, reduzindo a fé a uma proposta psicologizante, espiritualista ou politizante.

Apontamos cinco dimensões que necessitam da atenção de quem trabalha na formação dos jovens: dimensão da personalização, da integração, dimensão teológico-espiritual, social-política e dimensão da capacitação técnica.

a.       Dimensão psico-afetiva – Processo da personalização. As perguntas de fundo: Qual é a relação comigo mesmo? Quem sou eu? São perguntas de fundo importantes para o autoconhecimento e para a construção da personalidade do jovem. Sem a capacidade de autoconhecimento e autocrítica, o jovem é incapaz de analisar as situações com objetividade, de administrar os conflitos, e de se relacionar com outros de uma maneira equilibrada. Sem esta dimensão torna-se difícil a interiorização, o silêncio interior e o encontro com Deus na oração e a verdadeira conversão.

b.      Dimensão psicossocial – Processo de integração. As perguntas de fundo são: Quem é o outro? Como relacionar-se com ele? Essa dimensão acentua a importância das relações entre as pessoas que acontecem, por exemplo, nas amizades, nos grupos, na vida em comunidade, na família. A felicidade do jovem depende da sua capacidade de comunicar-se com os outros. A amizade é algo natural e importante na vida do jovem. Frente a uma cultura contemporânea que incita à concorrência, o Evangelho propõe um relacionamento baseado no amor e no serviço. Essa dimensão, então, busca motivar o jovem para o envolvimento na comunidade eclesial. Na medida em que ele se sente valorizado em suas capacidades, consegue perceber o valor de se caminhar com aqueles que partilham da mesma fé em Jesus Cristo.

 

c.       Dimensão Mística – Processo teológico-espiritual. As perguntas de fundo que o jovem se faz são: Qual é a minha relação com Deus? De onde vim? Para onde vou? Qual o sentido da minha vida? Qual o sentido da morte? Qual o sentido do sofrimento?  O ser humano foi feito para um horizonte mais amplo do que o bem-estar material. O teológico e o espiritual não só caminham juntos, mas se complementam. A dimensão teológica é cultivada no estudo, na catequese e no aprofundamento dos dados básicos da fé. Desse aprofundamento fazem parte a iniciação à leitura da Palavra de Deus, do conhecimento de Jesus Cristo e da Igreja. A dimensão espiritual corresponde à experiência de Deus. Isso pode ser feito através de retiros, da vivência sacramental e da oração. Não basta estudar Deus; é necessário também ter uma experiência de Deus. A relação com Deus está também presente nas outras dimensões e as ilumina.

 

d.      Dimensão Política – Processo de participação-conscientização. As perguntas de fundo do jovem são: Qual a minha relação com a sociedade ao meu redor? Como organizar a convivência social? Podemos mudar a sociedade? A consciência da cidadania faz ver que todo poder emana do povo e em seu lugar é exercido. Essa dimensão abre o jovem para os problemas sociais em nível nacional e internacional: problemas de moradia, saúde, alimentação, a má qualidade da educação, direitos humanos desrespeitados, discriminação contra a mulher, violência, guerra, ecologia. Não se pode pregar um amor abstrato que encobre os mecanismos econômicos, sociais e políticos geradores da marginalização de grandes setores de nossa população. Aqui há necessidade de formar o jovem para o exercício da cidadania. Há necessidade de conectar a fé com a vida, a fé com a política.

 

e.       Dimensão Técnica – Processo de capacitação-metodologia. As perguntas de fundo do jovem: Qual é a minha relação com a ação? “A fé sem ação,” diz São Tiago, “está morta”. Como trabalhar? Como me organizar através de um consistente projeto pessoal de vida? Como administrar meu tempo? Como organizar as estruturas de coordenação que facilitam o acompanhamento sistemático, a comunicação, o aprofundamento e a continuidade? Como coordenar uma reunião de grupo e assegurar conclusões concretas? Como montar um curso? Como avaliar e acompanhar sistematicamente, no dia-a-dia, os processos grupais de educação na fé? Como planejar e avaliar a ação evangelizadora? As habilidades são necessárias para acompanhar as estruturas de apoio para o processo de evangelização dos jovens. Sem estas habilidades, os projetos pastorais não caminham.

 

2.       ESPIRITUALIDADE

vocação à santidade e a certeza de que a juventude é um lugar teológico da comunicação de Deus, exigem da Igreja uma proposta de espiritualidade como caminho que dê sentido à vida, em um constante diálogo com o Pai, através de Jesus, no Espírito Santo. Entendendo a espiritualidade como motivação central e bússola para orientar a vida, na direção da vontade de Deus, propomos aos jovens uma espiritualidade: centrada em Jesus Cristo e no seu projeto de vida; acolhedora do cotidiano como lugar privilegiado de crescimento e santificação; alegre e cheia de esperança; marcada pela experiência comunitária onde se medita a Palavra de Deus e se celebra a Eucaristia; apoiada no modelo do ‘sim’ de Maria e na certeza de sua presença materna e auxiliadora; conduzida pelo compromisso com o Reino, traduzida no compromisso com a transformação social a partir da sensibilidade diante do sofrimento do próximo.

Oração pessoal: O diálogo pessoal, íntimo, profundo com Jesus Cristo, no Espírito Santo, nos fortalece na dignidade de filhos diante do Pai.

Oração comunitária: É preciso recuperar o domingo como um dia especial de revigoramento espiritual.

Participação na comunidade: A espiritualidade da comunhão fraterna é essencial na vida cristã e todo jovem é convidado, desde cedo, a fazer esta experiência fundante da fé através de seu envolvimento nas diversas responsabilidades assumidas na comunidade.

Leitura orante da Sagrada Escritura: Quanto mais mergulhamos nas Escrituras, mais nos identificamos com este povo e adquirimos entendimento do que somos, para onde vamos e o que devemos fazer.

A vivência dos Sacramentos: De maneira toda especial encontramo-nos com Jesus na celebração dos sacramentos. O jovem, batizado, desejoso de se tornar adulto na fé, descobre, através da preparação e da celebração do Sacramento da Crisma, uma ocasião de receber os dons do Espírito Santo e de ser ungido, isto é, consagrado para a missão.

Devoção a Nossa Senhora: o reconhecimento da presença materna de Maria se desenvolve a partir das celebrações litúrgicas e das diversas expressões da piedade popular.

Os diversos encontros espirituais: nossa tradição eclesial comprova o valor perene de momentos especiais para os jovens e com os jovens, cuja finalidade é a formação e a espiritualidade.

As leituras e reflexões: são de grande valia as leituras teológicas e espirituais como instrumento para o fortalecimento e o crescimento da fé. A leitura da vida dos santos e de seus escritos pode contribuir enormemente para despertar ou alimentar a vida dos jovens que hoje, mais do que nunca, sentem necessidade de modelos, líderes, testemunhos.

 

3.       PEDAGOGIA DE FORMAÇÃO

Para evangelizar esta nova geração de jovens que descrevemos anteriormente contamos com a rica experiência acumulada e sistematizada pela Igreja na América Latina e no Brasil, e salientamos algumas pistas de ação:

a.       Prioridade da experiência sobre a teoria.

b.       Pedagogia de pequenos grupos e eventos de massa. Os grupos de jovens são um instrumento pedagógico de educação na fé.

c.       Níveis de evolução do processo de acompanhamento dos jovens.

·         Prestação de serviços: Neste primeiro nível, o assessor diocesano ou equipe de coordenação organiza serviços para jovens: palestras, cursos de fim de semana, encontros, eventos massivos, passeios.

·         Organização de grupos de jovens: Os grupos de jovens são um recurso pedagógico na educação na fé e também representam um passo à frente em termos de continuidade.

·         Organização dos grupos em uma rede. As estruturas de coordenação facilitam a organização de uma rede de grupos através da qual é possível deslanchar processos e não mais atividades isoladas.

·         Necessidade de um projeto pastoral compartilhado. Neste nível de evolução há um projeto pastoral compartilhado que determina a identidade da pastoral ou movimento: modelo de jovem a ser formado, tipo de espiritualidade, a imagem, de Deus e da Trindade, modelo de Igreja, relação Igreja-sociedade, relação bíblia-vida, relação fé-vida, fé-política, a maneira de celebrar.

·         Crescimento por etapas. Neste último nível de evolução há uma consciência que todo crescimento humano, incluindo o crescimento na fé, passa por etapas.

 

4.       DISCÍPULOS PARA A MISSÃO

Na evangelização da juventude deve-se estar atento ao conjunto da população jovem e não se restringir apenas àqueles que já são atingidos pela ação pastoral da Igreja. Freqüentemente os grupos de jovens e suas coordenações se fecham dentro de um pequeno círculo de amigos e conhecidos. Os jovens organizados na Igreja são uma pequena parcela da população jovem. É preciso estimular em todos o espírito missionário para que saiam em missão para levar os outros jovens a um encontro pessoal com Jesus Cristo e o projeto de vida proposta por ele. Esta é também tarefa de toda a comunidade eclesial.

A missão não se reduz apenas a trazer os jovens para as atividades da Igreja, mas também para que assumam seu papel na sociedade.

Um setor significativo da juventude sonha com a utopia de um outro mundo possível. Na maioria das experiências massivas que clamam por mudanças na sociedade e por uma outra globalização há uma grande presença da juventude.

 

5.       ESTRUTURAS DE ACOMPANHAMENTO

Sem a organização e a articulação entre si, numa rede de grupos, o assessor se vê obrigado a acompanhar os jovens individualmente, o que se torna muito difícil. Sem a organização, os grupos se fecham numa visão limitada e superficial.

Há um aumento da motivação por parte dos jovens ao perceberem que fazem parte de um projeto mais amplo, em que as estruturas participativas promovem o protagonismo dos jovens, aumentam a motivação e compromisso.

Participando das estruturas da organização, o jovem desenvolve importantes habilidades de liderança, capacidade de escutar os outros, de superar a timidez e falar em público, de organizar e comunicar suas ideias de maneira sistematizada, de conduzir uma reunião, de analisar criticamente a sociedade ao seu redor, de motivar e acompanhar processos individuais e grupais, de planejar e avaliar a ação pastoral.

A participação nas estruturas de coordenação é uma maneira eficaz de viver a espiritualidade do Evangelho. Frente ao individualismo da cultura contemporânea, o jovem aprende a vivenciar o mandamento novo trabalhando em equipe com os outros. Aprende a humildade e a capacidade de dialogar. No meio dos conflitos vê-se obrigado a aceitar as críticas, a escutar as opiniões dos outros, a entender a perspectiva dos outros, ser podado para crescer mais. Aprende que não pode impor seus conceitos, que é preciso abrir os horizontes para escutar outros fatos e outras evidências. A participação nas estruturas da organização é uma maneira para mudar mentalidades e comportamentos. O ambiente cultural que educa o jovem para o individualismo é combatido na prática cotidiana dos grupos e equipes de coordenação. As estruturas organizativas precisam ser avaliadas e atualizadas em vista da missão e do serviço.

A Nova nomenclatura “Setor Juventude” está sendo usado para significar o segundo sentido e eliminar a ambigüidade e adequar melhor as estruturas organizativas à nova realidade.

 

 

6.       MINISTÉRIO DA ASSESSORIA

Desejamos identificar e capacitar assessores adultos, pois não há processo de educação na fé sem acompanhamento, e não há acompanhamento sem acompanhante. Enquanto em nossas dioceses não houver adultos e jovens-adultos que se responsabilizem efetivamente por um consistente trabalho juvenil local, os resultados serão sempre aquém do desejado.

 

7.       DIÁLOGO FÉ E RAZÃO

Os argumentos intelectuais para serem convincentes devem ser acompanhados pelo testemunho de uma vida cristã autêntica. A imagem que a Igreja projeta na sociedade é muito importante para a evangelização de uma juventude cada vez mais escolarizada: uma igreja comprometida com os setores marginalizados da sociedade, que evangeliza a partir do testemunho e dinamismo de seus membros, de maneira especial de jovens que são apóstolos de outros jovens, uma Igreja alegre e acolhedora que ama e acredita nos jovens.

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8.       O DIREITO À VIDA

Frente à situação de extrema vulnerabilidade a que está submetida a imensa maioria dos jovens brasileiros, é necessária uma firme atuação de todos os segmentos da Igreja no sentido de garantir o direito dos jovens à vida digna e ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades. Isso se desdobra e concretiza no direito à educação, ao trabalho e à renda, à cultura e ao lazer, à segurança, à assistência social; à saúde e à participação social. 

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