Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos
Canto de exposição ao Santíssimo
Motivação do coordenador pastoral ou do ministro
Momento de silencio
Leitura da Bíblia: Lc 12, 35-40
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Que
vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão
esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrir,
imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os empregados que
o senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade eu vos digo: Ele mesmo
vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá. E caso ele
chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão, se assim os
encontrar! Mas ficai certos: se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão
iria chegar, não deixaria que arrombasse a sua casa. Vós também, ficai
preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o
esperardes".
Momento de silencio
Canto de meditação
Silencio
Leitura Patrística: Papa Francisco
As Leituras que ouvimos
suscitam em nós, em mim, duas palavras: espera e surpresa .
A espera
manifesta o sentido da vida, pois vivemos na expetativa do encontro: o encontro
com Deus, que hoje é o motivo da nossa oração de intercessão, especialmente
pelos Cardeais e Bispos falecidos durante o último ano, pelos quais oferecemos
em sufrágio este Sacrifício eucarístico.
Todos vivemos na expetativa,
na esperança de um dia ouvir aquelas palavras de Jesus: «Vinde, benditos do meu
Pai» (Mt 25, 34). Estamos na sala de espera do mundo para entrar
no paraíso, para participar naquele “banquete para todos os povos” de que nos
falou o profeta Isaías (cf. 25, 6). Ele diz algo que aquece o nosso coração
porque levará a cumprimento precisamente as nossas maiores expetativas: o
Senhor «eliminará para sempre a morte» e «enxugará as lágrimas em cada rosto»
(v. 8). É bom quando o Senhor vem enxugar as lágrimas! Mas é muito mau, quando
esperamos que seja outra pessoa, e não o Senhor, que as enxugará. E pior ainda,
não ter lágrimas. Então poderemos dizer: «Este é o Senhor em quem esperamos —
aquele que enxuga as lágrimas — alegremo-nos, exultemos pela sua salvação» (v.
9). Sim, vivemos na expetativa de receber bens tão grandes e bons que nem
sequer os conseguimos imaginar, pois como nos recordou o apóstolo Paulo, «somos
herdeiros de Deus, co-herdeiros de Cristo» (Rm 8, 17) e “esperamos
viver para sempre, esperamos a redenção do nosso corpo” (cf. v. 23).
Irmãos e irmãs, alimentemos a
expetativa do Céu, exercitemos o desejo do paraíso. Far-nos-á bem, hoje,
perguntar-nos se os nossos desejos têm a ver com o Céu . Pois
corremos o risco de aspirar constantemente a coisas que passam, de confundir os
desejos com as necessidades, de antepor as expetativas do mundo à espera de
Deus. Mas perder de vista o que importa para perseguir o vento seria o maior
erro da vida. Olhemos para cima, porque estamos a caminho do Alto, pois as
coisas daqui não irão para lá: as melhores carreiras, os maiores sucessos, os
títulos e reconhecimentos mais prestigiosos, a riqueza acumulada e os ganhos
terrenos, tudo esvaecerá num instante, tudo. E todas as expetativas neles
depositadas ficarão desapontadas para sempre. No entanto, quanto tempo, quanto
esforço e energia gastamos, preocupando-nos e amargurando-nos por estas coisas,
deixando desvanecer-se a tensão pela casa, perdendo de vista o sentido do
caminho, a meta da viagem, o infinito para o qual tendemos, a alegria pela qual
respiramos! Perguntemo-nos: vivo o que digo no Credo, “Aguardo — isto é — a
ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”? E como está a minha
espera? Sou capaz de ir ao essencial ou distraio-me com muitas coisas
supérfluas? Cultivo a esperança ou vou em frente queixando-me, porque dou
demasiado valor a muitas coisas que não contam e que depois passarão?
À espera de amanhã, ajuda-nos
o Evangelho de hoje. E aqui surge a segunda palavra que gostaria de partilhar
convosco: surpresa . Porque é grande a surpresa cada vez que
ouvimos o capítulo 25 de Mateus. É semelhante à dos protagonistas, que dizem:
«Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos
de beber? Quando te vimos estrangeiro e te acolhemos, ou nu e te
vestimos? Quando te vimos doente ou prisioneiro e te fomos visitar?» (vv.
37-39). Quando? Assim se manifesta a surpresa de todos, o
enlevo dos justos e a consternação dos injustos.
Quando? Também nós o poderíamos
dizer: esperaríamos que o juízo sobre a vida e sobre o mundo tivesse lugar sob
o sinal da justiça, perante um tribunal resolutivo que, filtrando todos os
elementos, lance luz para sempre sobre as situações e as intenções. Ao
contrário, no tribunal divino, o único mérito e acusação é a misericórdia para
com os pobres e os descartados: «Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos
mais pequeninos, foi a mim que o fizestes», sentencia Jesus (v. 40). O
Altíssimo parece estar nos mais pequeninos. Quem habita nos céus vive entre os
mais insignificantes do mundo. Que surpresa! Mas o juízo terá lugar desta forma
porque será feito por Jesus, o Deus do amor humilde, Aquele que, nascido e
morto pobre, viveu como servo. A sua medida é um amor que vai além das nossas
medidas, e a sua medida de juízo é a gratuidade. Assim, para nos prepararmos,
sabemos o que fazer: amar gratuitamente e a fundo perdido, sem esperar uma
retribuição, quem entra na sua lista de preferências, quem não nos pode dar nada
em troca, quem não nos atrai, quem serve os mais pequeninos.
Esta manhã recebi uma carta de
um capelão de um lar de crianças, um capelão protestante, luterano, numa casa
de crianças na Ucrânia. Crianças órfãs de guerra, crianças sozinhas,
abandonadas. Ele disse: “Este é o meu serviço, acompanhar estes descartados,
porque perderam os pais, a guerra cruel deixou-os sozinhos!”. Este homem faz o
que Jesus lhe pede: cuidar dos mais pequeninos na tragédia. E quando li esta
carta, escrita com tanta dor, fiquei comovido e disse: “Senhor, vê-se que Tu
continuas a inspirar os verdadeiros valores do Reino”.
Quando? dirá este pastor quando
se encontrar com o Senhor. Aquele “quando” surpreendido, que aparece quatro
vezes nas perguntas que a humanidade dirige ao Senhor (cf. vv. 37.38.39.44),
chega tarde, apenas «quando o Filho do Homem vier na sua
glória» (v. 31). Irmãos, irmãs, não nos deixemos surpreender também nós.
Tenhamos muito cuidado para não adoçar o sabor do Evangelho. Pois muitas vezes,
por conveniência ou conforto, tendemos a atenuar a mensagem de Jesus, a diluir
as suas palavras. Admitamos, tornamo-nos muito hábeis a ceder a compromissos em
relação ao Evangelho. Sempre até aqui, até ali — compromissos. Dar de comer aos
famintos, sim, mas a questão da fome é complexa, e certamente não consigo
resolvê-la! Ajudar os pobres, sim, mas depois as injustiças devem ser tratadas
de certa forma e por isso é melhor esperar, também porque se eu me comprometer,
corro o risco de ser sempre incomodado e talvez me aperceba que poderia ter
feito melhor; é melhor esperar um pouco. Estar perto dos doentes e dos presos,
sim, mas nas manchetes dos jornais e nas redes sociais há outros problemas mais
urgentes, então por que precisamente eu deveria interessar-me por eles? Acolher
migrantes, sim, claro, mas é uma questão geral complicada, diz respeito à
política... Não me envolvo nestes assuntos... Sempre compromissos: “sim,
sim...”, mas “não, não”. Estes são os compromissos que fazemos em relação ao
Evangelho. Tudo “sim” mas, no final, tudo “não”. E assim, à força de “mas” e de
“contudo” — tantas vezes somos homens e mulheres de “mas” e “contudo” — fazemos
da vida um compromisso em relação ao Evangelho. De simples discípulos do Mestre
tornamo-nos mestres da complexidade, que discutem muito e fazem pouco, que
procuram respostas mais diante do computador do que perante o Crucifixo, na
internet e não no olhar dos irmãos e irmãs; cristãos que comentam, debatem e
expõem teorias, mas não conhecem pelo nome nem sequer uma pessoa pobre, não
visitam um doente há meses, nunca deram de comer nem vestiram alguém, nunca
fizeram amizade com um necessitado, esquecendo que «o programa do cristão é um
coração que vê» (Bento XVI, Deus caritas est, 31).
Quando? A grande surpresa:
surpresa da parte justa e da parte injusta, quando? Tanto os justos como os
injustos se perguntam surpreendidos. A resposta é uma só: o quando é
agora, hoje, à saída desta Eucaristia. Agora, hoje! Está nas nossas
mãos, nas nossas obras de misericórdia: não nas especificações e nas análises
requintadas, não nas justificações individuais ou sociais. Nas nossas mãos, e
nós somos responsáveis. Hoje o Senhor lembra-nos que a morte consegue
lançar a verdade sobre a vida, removendo todos os atenuantes à misericórdia.
Irmãos, irmãs, não podemos dizer que não sabíamos. Não podemos confundir a
realidade da beleza com a maquilhagem feita artificialmente. O Evangelho
explica como viver a espera: vai-se ao encontro de Deus
amando, porque Ele é amor. E, no dia da nossa despedida, a surpresa
será feliz se agora nos deixarmos surpreender pela presença de Deus, que nos
espera entre os pobres e feridos do mundo. Não tenhamos medo desta surpresa:
progridamos naquilo que o Evangelho nos diz, para ser julgados justos no final.
Deus espera ser acariciado não com palavras, mas com gestos.
Silencio
Canto de meditação
Silencio
Preces espontâneas (o ministro convida a
partilhar pedidos a voz alta)
Pai nosso
Canto de reposição do Santíssimo Sacramento.
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